Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. (...) Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado. O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca.
(Antoine de Saint-Exupéry, in 'Cidadela')
nós olhamos tanto tempo para a porta fechada que não podemos ver aquela
que se abriu diante de nós. É maravilhoso ter ouvidos e olhos na alma.
Isto completa a glória de viver”.
Helen Keller
Procurei Deus, e não O vi;
Procurei a Alma, também não A vi;
Procurei o próximo, e encontrio-Os a todos!
José Pedro Amaral
Taizé-Brasil - Dezembro 2004
Um dia, quando eu era caloiro na escola, vi um miúdo da minha turma a
caminhar para casa depois da aula.
O nome dele era Kyle. Parecia que estava a carregar os seus livros todos.
Eu pensei: 'Porque é que leva para casa todos os livros numa sexta-feira ?
Ele deve ser mesmo um marrão.
Como já tinha o meu fim-de-semana planeado(festas e um jogo de futebol com
meus amigos no sábado a tarde), encolhi os ombros e segui o meu caminho.
Conforme ia caminhando, vi um grupo de miúdos a correr na direcção dele.
Eles atropelaram-no, arrancando-lhe todos os livros dos braços e
empurraram-no, de tal forma que ele caiu no chão. Os seus óculos voaram, e
eu vi-os aterrarem na relva a alguns metros e onde ele estava. Ele ergueu o
rosto e eu vi uma terrível tristeza nos seus olhos.
O meu coração penalizou-se por ele. Então, corri até ele enquanto ele
gatinhava à procura dos óculos, e pude ver lágrimas nos seus olhos.
Enquanto lhe entregava os óculos, eu disse: 'Aqueles tipos são uns parvos.
Eles deviam era arranjar uma vida própria'.
Ele olhou para mim e disse: Ei, obrigado! Havia um grande sorriso na sua
face. Era um daqueles sorrisos que realmente mostram gratidão.
Eu ajudei-o a apanhar os livros, e perguntei-lhe onde morava. Por
coincidência ele morava perto da minha casa, então eu perguntei como é que
nunca o tinha visto antes.
Ele respondeu que antes frequentava uma escola particular. Conversámos todo
o caminho de volta para casa, e carreguei-lhe os livros. Ele revelou-se um
miúdo muito porreiro.
Perguntei-lhe se queria jogar futebol no Sábado comigo e com os meus amigos,
ele disse que sim. Ficamos juntos todo o fim-de-semana e quanto mais eu
conhecia Kyle, mais gostava dele. E os meus amigos pensavam da mesma forma.
Chegou a Segunda-Feira, e lá estava o Kyle com aquela quantidade imensa de
livros outra vez.
Parei-o e disse,'Diabos, pá, vais fazer o quê com os livros de novo? Ele
simplesmente riu e entregou-me metade dos livros.
Nos quatro anos seguintes Kyle e eu tornámo-nos melhores amigos.
Quando nos estávamos a formar começámos a pensar na faculdade. Kyle decidiu
ir para Georgetown, e eu ia para a Duke. Eu sabia que seríamos sempre
amigos, que a distância nunca seria um problema. Ele seria médico, e eu ia
tentar uma bolsa escolar na equipa de futebol.
Kyle era o orador oficial da nossa turma. Eu provocava-o o tempo todo por
ele ser um C. D. F. Ele teve que preparar um discurso de formatura.
Eu estava super contente por não ser eu a subir ao palanque e discursar.
No dia da Formatura eu vi Kyle. Ele estava óptimo. Era um daqueles tipos que
se encontram durante a escola.
Ele estava mais encorpado e realmente tinha uma boa aparência, mesmo usando
óculos. Ele saía com mais miúdas do que eu, e todas as raparigas o adoravam!
Às vezes eu até ficava com inveja.
Hoje era um desses dias. Eu podia ver o quanto ele estava nervoso por causa
do discurso. Então dei-lhe uma palmadinha nas costas e disse: Ei, rapaz,
vais-te sair bem! Ele olhou para mim com aquele olhar aquele olhar de
gratidão) e sorriu. Valeu, disse ele.
Quando ele subiu ao oratório, limpou a garganta e começou o discurso:
'A Formatura é uma época para agradecermos aqueles que nos ajudaram durante
estes anos duros. Aos pais, aos professores, aos irmãos, talvez até a um
treinador. Mas principalmente aos amigos. Eu estou aqui para lhes dizer que
ser um amigo para alguém é o melhor que se pode dar.
Eu vou-lhes contar uma história.
Eu olhei para o meu amigo sem conseguir acreditar enquanto ele contava a
história sobre o primeiro dia em que nos conhecemos.
Ele tinha planeado suicidar-se naquele fim-de-semana.
Contou a todos como tinha esvaziado o seu armário na escola, para que a mãe
não tivesse que fazer isso depois de ele morrer, e estava a levar as suas
coisas todas para casa.
Ele olhou directamente no meus olhos e deu-me um pequeno sorriso.
'Felizmente eu fui salvo. O meu amigo salvou-me de fazer algo inominável'.
Eu observava, com um nó na garganta, todos na plateia, enquanto aquele rapaz
popular e bonito contava a todos sobre aquele seu momento de fraqueza. E vi
a mãe e o pai dele a olharem para mim e a sorrir com aquela mesma gratidão.
Até aquele momento eu nunca me tinha apercebido da profundidade do sorriso
que ele dirigiu naquele dia.
Nunca subestimes o poder das tuas acções. Com um pequeno gesto podes mudar a
vida de uma pessoa. Para melhor ou para pior. Deus coloca-nos a todos nas
vidas uns dos outros para que tenhamos um impacto um sobre o outro de alguma
forma. Procura o bem nos outros.
(Autor desconhecido)
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